segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Não tenha nada nas mãos


Não tenhas nada nas mãos

nem uma memória na alma,

que quando te puserem

nas mãos o óbolo último,

ao abrirem-te as mãos

nada te cairá.

Que trono te querem dar

que átropos to não tire?

Que louros que não fanem

nos arbítrios de minos?

Que horas que te não tornem

da estatura da sombra.

Que serás quando fores

na noite e ao fim da estrada.

Colhe as flores mas larga-as,

das mãos mal as olhaste.

Senta-te ao sol.

Abdica

e sê rei de ti próprio.


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Sobre o(a) autor(a):
Fernando Pessoa (1888 - 1935) nasceu em Lisboa.
Considerado um dos mais importantes poetas modernistas.
Criou heterônimos famosos como Alberto Caieiro, Ricardo Reis e Álvaro Campos.





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