Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.
Sobre o(a) autor(a):
A escritora nasceu na Ucrânia, mas viveu no Brasil desde os dois meses de idade. Suas obras mais famosas incluem Laços de Família, A Paixão Segundo G.H. e A Hora da Estrela. Nos textos, Clarice explora a solidão e a incomunicabilidade humana.
Não enteeeendo! =)
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