terça-feira, 27 de outubro de 2009

como ?


O mistério das coisas, o mistério das coisas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece ao menos para mostrar-nos que não é mistério?
Que sabe o rio disso?
Que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei eu disso?
E sempre que eu olho para as coisas e penso no que os homens pensam delas, eu dou risada.
Eu dou risada como um regato sua fresco numa pedra.
Porque o único sentido oculto das coisas é elas não terem sentido oculto nenhum.
É mais estranho do que todas as estranhezas, do que os sonhos de todos os poetas e o pensamento de todos os filósofos,
que as coisas sejam o que realmente parecem ser e não haja nada que compreender.
Sim, sim, heis, heis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos,
as coisas não tem significação, tem existência.


Sobre o(a) autor(a):
Fernando Pessoa (1888 - 1935) nasceu em Lisboa.
Considerado um dos mais importantes poetas modernistas.
Criou heterônimos famosos como Alberto Caieiro, Ricardo Reis e Álvaro Campos.

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